PUB

Causam cancro? 7 perguntas e respostas sobre implantes de silicone

Está entre as cirurgias estéticas mais realizadas em todo o Mundo e Portugal não foge à regra. A colocação de próteses de silicone para aumento mamário é realizada todos os dias, por mulheres de diferentes idades. Tem dúvidas sobre a segurança deste procedimento estético? Eis 7 perguntas e respostas sobre os implantes de silicone.

9 Jan 2024 - 10:30

Causam cancro? 7 perguntas e respostas sobre implantes de silicone

Está entre as cirurgias estéticas mais realizadas em todo o Mundo e Portugal não foge à regra. A colocação de próteses de silicone para aumento mamário é realizada todos os dias, por mulheres de diferentes idades. Tem dúvidas sobre a segurança deste procedimento estético? Eis 7 perguntas e respostas sobre os implantes de silicone.

Aumentar o peito é um desejo de muitas mulheres e, por isso, nas últimas décadas tem crescido o número de cirurgias estéticas realizadas para a colocação de próteses de silicone. Como em qualquer cirurgia, muitas são as dúvidas de quem chega ao consultório dos especialistas para a realização do procedimento, grande parte delas alicerçadas em mitos e ideias que pululam nas redes sociais ou que são veiculadas em conversas entre amigos. 

PUB

Nuno Fradinho, cirurgião plástico que preside à Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética e é diretor clínico da Clínica My Moment, esclarece ao Viral algumas das dúvidas e receios que muitas vezes ouve de quem o procura para realizar esse procedimento estético.

A colocação de implantes mamários de silicone está associada ao aumento do risco de cancro?

Neste campo há que abordar dois temas. O primeiro é o risco de cancro da mama e, neste ponto, a resposta do especialista em cirurgia plástica é um claro “não”.

“Os implantes mamários não aumentam a probabilidade de desenvolver cancro da mama, ou seja, de desenvolver o cancro originário das células mamárias, nem atrasam o seu diagnóstico”, esclarece o especialista.

Aliás, frisa em conversa com o Viral, o autoexame da mama até pode ficar facilitado já que o implante de silicone é colocado por trás da glândula mamária, que fica espalmada e, por esse motivo, “qualquer nódulo pode ser sentido mais facilmente pela mulher”.

“Neste ponto de vista, estamos completamente tranquilos. Até usamos as mesmas próteses para fazer a reconstrução mamária nas pessoas que fizeram mastectomias em consequência de um cancro de mama. É completamente seguro esse ponto”, reforça o cirurgião plástico.

Outro tema diferente é que “existe, de facto, um tumor associado ao uso de próteses mamárias que é, felizmente, bastante raro”: o linfoma anaplásico de células grandes associado ao implante mamário, conhecido como BIA-ALCL.

Segundo o Infarmed, não é conhecida a estimativa precisa do risco de desenvolvimento da doença, mas os especialistas colocam o risco de ter BIA-ALCL “entre 1 em 100 000 e 1 em 1 000, ou seja, por cada 1000 ou 100 000 portadores de implantes mamários um será diagnosticado com BIA-ALCL”.

Esta patologia deriva do desenvolvimento de inflamação crónica em alguns pacientes, nos quais os leucócitos, os glóbulos brancos, podem degenerar numa linhagem que causa linfoma. 

PUB

O BIA-ALCL manifesta-se pela existência de uma massa na mama e a maioria dos casos trata-se com a remoção dessa massa, da prótese e da cápsula que o corpo formou à volta da prótese.

“Felizmente, esses linfomas, quando descobertos a tempo e tratados devidamente, são considerados de baixo grau”, assegura Nuno Fradinho.

O cirurgião plástico explica ainda que o BIA-ALCL está associado a implantes com texturas mais grossas e texturizadas, que foram desenvolvidos para diminuir os riscos de contratura capsular. 

Com as anteriores próteses, mais lisas, a cápsula que o corpo formava à volta da prótese espessava, contraía e magoava a mulher.

“Depois evoluiu-se para próteses texturizadas, dando alguma textura ao revestimento, porque, quanto maior a textura, menor a probabilidade de ter uma contratura, contudo é maior a probabilidade de desenvolver um BIA-ALCL”, reconhece o especialista. 

Ainda assim, reforça, são casos raros e, se descobertos precocemente, não evoluem para um tumor maligno, com um comportamento extremamente agressivo.

“Há uns cinco ou dez anos a comunidade andou um pouco alarmada com a descoberta, mas, entretanto, o tema acalmou com a descoberta dos marcadores [tumorais] e a percepção da baixa incidência. Em Portugal há, penso, apenas um ou dois casos relatados”, acrescenta.

Uma mulher com implantes de silicone deve alterar a vigilância na prevenção do cancro de mama?

“A regularidade de observação da mama deve manter-se a mesma”, refere Nuno Fradinho, lembrando que uma em cada oito mulheres vai desenvolver um cancro da mama ao longo da vida, uma vez que este “é um dos cancros mais prevalentes” no sexo feminino.

Ainda assim, explica o cirurgião plástico, “o facto de ter uma prótese não altera em nada a periodicidade, nem o tipo de exames que a mulher deve fazer”, uma vez que “ter implante ou não ter é exatamente igual”.

Por isso, o importante é relembrar que, em Portugal, o rastreio nacional do cancro da mama inclui a realização de mamografia a cada dois anos, dos 50 até aos 69 anos de idade, embora a Comissão Europeia já tenha emitido recomendações aos Estados-membros para alargarem o período de rastreio de cancro de mama, baixando a idade de início para os 45 anos e estendendo até aos 74 anos de idade.

PUB

E os implantes de silicone não impedem a realização das mamografias?

Nas palavras do especialista a resposta é um claro “não”. Neste importante exame realizado no rastreio do cancro da mama, quando a mulher tem implantes de silicone “são usadas técnicas diferentes para não espalmar a mama com implante, até porque, a bem da verdade, a mama já está espalmada contra a prótese”, explica Nuno Fradinho, mas a existência dessa mesma prótese não impede que a mamografia seja realizada, nem tem implicações no diagnóstico da doença.

O que é necessário é informar os profissionais na altura de realização do exame da existência das próteses de silicone para que estes façam incidências diferentes das mamas. 

As próteses de silicone impossibilitam a amamentação?

Esta é outra das questões que muito frequentemente surge durante as consultas de preparação da cirurgia para colocação de próteses de silicone.

Neste ponto, Nuno Fradinho considera importante ressalvar que as próteses atuais têm uma melhor qualidade e o silicone “não migra, fica contido” dentro da cápsula, o que torna a amamentação segura para a mãe e para o bebé.

Quanto ao ato de amamentar, “numa situação normal, a mulher pode amamentar tranquilamente”, assegura.

O que implica possíveis condicionantes à amamentação é o ato cirúrgico em si realizado na mama, quer haja colocação de prótese ou não.

“O facto de fazermos uma agressão à mama – uma cirurgia é sempre uma agressão -, de irmos cortar alguns ductos mamários e, no caso de colocação da prótese, de fazermos pressão sobre a glândula mamária, tudo isso pode diminuir a possibilidade de um aleitamento exclusivo materno”, reconhece Nuno Fradinho.

Contudo, acrescenta, isso “não quer dizer que não consiga amamentar, pode é ter mais dificuldade em amamentar e na produção da mesma quantidade de leite”.

PUB

Por esse motivo, esclarece, é dito às pacientes que estão a pensar colocar próteses de silicone e ainda equacionam ser mães que não ficam impedidas de amamentar, mas “mais facilmente será necessário recorrer ao suplemento alimentar” para o bebé.

A colocação de próteses de silicone causa perda de sensibilidade nos mamilos?

Novamente: não é a prótese em si que pode ter consequências na sensibilidade da mama, é o tipo de cirurgia realizada. 

Segundo Nuno Fradinho, perder ou não sensibilidade no mamilo “depende do que for feito para que a mama fique com um bom resultado estético”.

Se em causa estiver uma mamoplastia de aumento, com colocação de prótese de silicone através de uma incisão pequena, “a probabilidade de ter uma perda de sensibilidade no mamilo é muito baixa”, assegura o cirurgião.

Eventualmente, há um momento em que há uma alteração de sensibilidade na mama, mas que é ultrapassada depois da recuperação total da intervenção cirúrgica.

Contudo, se for uma mastopexia – o chamado lifting mamário que pode, ou não, incluir a colocação de prótese de silicone – de uma mama muito descaída, em que é preciso tirar muita pele e subir vários centímetros o mamilo “nesse caso vamos desnervar mais a mama, os nervos sensitivos são cortados e vão precisar voltar a crescer a seguir”, explica o cirurgião plástico, a sensibilidade pode ficar comprometida.

“Não é uniforme a forma como as mulheres depois recuperam a sensibilidade, umas têm perda de sensibilidade parcial ou mesmo total e pode acontecer de uma forma temporária ou permanente. Ainda assim, é raro, mesmo nas mastopexias, casos de perda de sensibilidade permanente”, conta o especialista.

A prótese de silicone é vitalícia ou é necessário trocar ao fim de algum tempo?

Esta é uma dúvida que surge muito associada ao que acontece com a colocação de próteses na anca ou no joelho, que têm de ser substituídas passado algum tempo.

PUB

Partindo do princípio de que “não há nenhum implante que seja vitalício”, Nuno Fradinho recorda que as próteses de silicone utilizadas atualmente são de “5ª e 6ª geração, têm boa qualidade e a probabilidade de romperem é muito baixa”, que era um dos receios com os antigos produtos e levava à troca de implantes ao fim de 10 ou 15 anos “porque o revestimento rompia mais facilmente”.

PUB

As novas próteses já estão no mercado há mais de uma década e “é muito raro vermos próteses rotas”, admite o médico, embora reconheça que ainda não passou tempo suficiente para se saber como se comportarão ao fim de 30 ou 40 anos.

“O que devemos dizer aos pacientes é que não há nada que seja eterno e a partir dos 10, 15 anos deve ser feita uma vigilância mais apertada para diagnosticar precocemente a contratura capsular, que é um sinal indireto de rutura [capsular]. Se nos exames e clinicamente estiver tudo bem, não é necessário mudar”, garante.

Há uma idade limite para a mulher colocar implantes de silicone?

“Pelo contrário, não há idade limite para a colocação da prótese de silicone”, garante o especialista, acrescentando que já não é raro surgirem em consultório cada vez mais mulheres acima dos 60 anos que desejam fazer mamoplastias de aumento.

“Por vezes, nestes casos, são desejos antigos que só nesta fase da vida é que conseguem concretizar e desde que, clinicamente, a pessoa esteja bem, seja saudável, a idade não é nenhuma contraindicação”, assegura.

Aliás, acrescenta ainda, a colocação de implantes de silicone “torna-se até útil para as pessoas envelhecerem com mais autoestima”, quando ainda têm pela frente os largos anos que o aumento da longevidade trouxe à sociedade.

9 Jan 2024 - 10:30

Partilhar:

PUB